1930/01/01 Águia 3 x Marítimo 1

Mensageiro do Ribatejo
08 Janeiro de 1930

No campo da Aclamação da Republica, para disputa de um objecto de arte, encontraram-se na passada quarta-feira os "teams" de honra do Águia S.C. Vilafranquense e do União Estrela Marítimo Vilafranquense.

Assistencia numerosa, avida de football, pois, motivos imprevistos têm inhibido, esta época, a nossa população de bons encontros e um Águia-Marítimo é sempre um "prato do dia". No entanto, quanto a football, propriamente dito, achámos oportuno transcrever o que um tecnico de reconhecida competência, Alexandre Cal, escreve no seu livro "Para ser um bom jogador de football":

"O jogo de "association" deve ser praticado o mais possível rasteiro, isto é, a bola nunca se deve levantar muito do terreno. Nada de pontapés altos (balões), porque assim a trajectoria sendo maior, quando a bola chega ao seu destinatário já este nao está desmarcado, visto que o seu adversário teve tempo de se colocar e assim apertar aquele a quem ela ia destinada.

É preciso, igualmente, servir-se o menos possível, do pontapé directo, quer dizer, vindo a bola alta ou rasteira envia-la, directamente, sem a parar, com um forte pontapé, o qual exige, neste caso, muita certeza e necessita o conhecimento dos efeitos que a bola pode tomar e a apreciação da direcção do vento, a inclinação do pé que a recebe, etc.

Portanto, usar o menos possível de pontapés directos. Deve-se parar sempre a bola, antes de shootar. E para receber bem uma bola é preciso sabe-la estacar, isto é, recebe-la sob o pé levantado no momento do seu contacto com o solo."

Isto diz Alexandre Cal, que foi treinador do F.C.Porto, S.C. Salgueiros, Selecção do Porto e, actualmente no modesto Leixões, que na 1ª volta do campeonato venceu o F.C.Porto. E o que vimos nós na quarta-feira? Na grande maioria do tempo, o pontapé para a frente. O antiquado sistema de meia bola e força. Incontestavelmente nos dois "teams" há elementos de valor, mas a dificuldade de se treinarem os leva a praticar um football antiquado.

Elementos que nos agradaram: Francisco Victorino, Francisco Biscaia, Manoel Joaquim, João Ramalho e Coelho.
Acácio Estevão arbitrou, não diremos bem porque teve faltas, mas rasoavel. O penalty que marcou contra o Maritimo, por carga a Melo, muito justo e dentro da doutrina da lei 9ª. De mal o discutir com os jogadores. Cumprisse, nessa emergência, com a lei 13ª, uma vez que estava ali escolhido pelos dois capitães e, portanto, com autoridade moral para o fazer.

Das direcções do Águia S.C. Vilafranquense e do União Estrela Marítimo Vilafranquense, recebemos ofícios em que, por nosso intermédio, agradecem á Comissão Admnistrativa da camara municipal deste concelho, a autorisação concedida para a realisação do desafio acima mencionado; ao sr. Francisco A. da Cruz, pelas ofertas da estatueta que foi disputada e da importancia de 50$00 e, tambem, aos elementos do Corpo de Bombeiros desta vila que os coadjuvaram na "quete que, a favor da Créche Vilafranquense, se efectuou no campo de football, cujo producto foi de 110$15 quantias estas já entregues á dita créche.

Off-side
1930/01/08
Mensageiro do Ribatejo

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