1956/01/17 A Fusão I

A Fusão dos Clubes Desportivos de Vila Franca de Xira

Uma Reunião nos Paços do Concelho



Na noite de 29 do passado mês de Dezembro, a convite do Sr. José de Sousa Nazareth, ilustre presidente da Câmara Municipal, reuniram-se, no salão nobre dos Paços do Concelho, as direcções dos Clubes Desportivos de Vila Franca de Xira.
O Sr. Presidente convidou para fazerem parte da mesa os presidentes das direcções dos respectivos clubes, srs. Dr. Vidal Baptista, do Operário Vilafranquense; Filberto Barquinha, do Águia Vilafranquense; Júlio Serra Sabino, do Ginásio Vilafranquense ; e Hóracio Cunha, do Óquei Clube de Vila Franca.

Dr. António José Vidal Baptista
O sr. José de Sousa Nazareth, depois de haver exposto o motivo da reunião: a fusão (ou não) dos clubes desportivos locais, manifestou o desejo de que, a bem de Vila Franca, aqueles dirigentes expusessem o dilema às assembleias gerais das suas colectividades, a fim de tomar-se posição neste magno assunto de que “Vida Ribatejana” tanto se tem ocupado e que interessa, sobre-maneira, a toda a população  vilafranquense.

Em seguida, o sr. presidente, após ter dito que a fusão dos clubes desportivos noutras terras s6  lhes 'trouxeram  benefícios  de ordem material e moral. Afirmou ainda que a existência de clubes rivais na mesma terra ocasiona, por vezes. rixas, desarmonia e mal-estar entre os seus habitantes, o que é lastimável, visto que o Desporto deve somente contribuir para uma maior e melhor aproximação entre os homens, para a sua cultura física e educação moral e nunca para fomentar ódios e malquerenças.

Prometendo informar, oportunamente, S. Ex.ª do que se passar nas assembleias gerais extraordinárias,  que  hão-de  ser  convocadas, a pedido das direcções que representam, falaram os srs. Dr. Vidal Baptista, Filberto Barquinha e Júlio Serra Sabino.

Foi ainda resolvido que, no caso de as massas associativas dos clubes, nessas assembleias, se pronunciarem favoravelmente à fusão, sejam, desde logo, designados dois delegados de cada uma daquelas colectividades para, em conjunto com o sr. Presidente da Câmara, estudar as bases da nova e grande Associação Desportiva que todos nós – e até aqueles que dizem não querer – pretendemos.


“Vida Ribatejana” e, em geral, toda a gente de Vila Franca tem, neste momento, os olhos postos nas felizes deliberações que, certamente, os sócios dos clubes locais, juntamente com os corpos gerentes, vão tomar nas próximas assembleias, somente orientados pelos profundo amor à sua e nossa terra, à causa desportiva e ao progresso e sossego que a fusão, indiscutivelmente nos virá trazer.

Comunica-nos a Direcção do Grupo de Futebol Operário Vilafranquense que, de conformidade com o Capitão José Maria Guedes Junior que foi resolvido na reunião a que acima nos referimos, já se dirigiu ao respectivo presidente da assembleia geral, capitão sr. José Maria da Silva Guedes Júnior, solicitando, a convocação de uma assembleia geral extraordinária daquele clube, a qual se realiza na próxima segunda-feira, 9 do corrente, com a seguinte ordem de trabalhos:

“1º - Apreciar e votar uma sugestão apresentada pelo sr. presidente da Câmara Municipal deste concelho, no sentido de, em princípio, se estabelecer a fusão  das  seguintes  coleciividades: Operário Vilafranquense, Águia Vilafranquense, Ginásio Vilafranquense e Óquei Clube de Vila Franca.

2º - Na hipótese de a assembleia geral se mostrar favorável à referida fusão. designar dois delegados deste clube, com poderes especiais para, juntamente com o sr. presidente da Câmara e com os delegados das outras três colectividades, poderem estudar e assentar nas bases de tal proble­ ma que, oportunamente, constituiriam objecto de uma nova assembleia geral extraordinária”.


Vida Ribatejana
07 de Janeiro de 1956

A Fusão - Uma Realidade!


Capitão José Maria Guedes Junior

O nosso inquérito acerca da fusão das associações vilafranquenses pode considerar-se terminado. A oportuna sugestão do ilustre presidente da Câmara, sr. José de Sousa Nazareth - a que aludimos no penúltimo numero em tal assunto foi decisiva para fim em vista.

As reuniões das assembleias gerais, por S. Ex.ª aconselhadas já realizadas nas sedes do Grupo Futebol Operário Vilafranquense, do Águia Sport Clube Vilafranquense, do Ginásio Vilafranquense e do Óquei Clube de Vila Franca deram razão àqueles que, de olhos somente postos no engrandecimento da nossa querida vila, vinham  trabalhando,  desde há anos, para que a fusão fosse uma realidade.

O inquérito a que meteu ombros a "Vida Ribatejana", os esforços de Luís de Sousa e Melo, a propaganda aqui feita e a decisão do sr. presidente do Município foram coroados do melhor êxito. Êxito que se tornou muito maior ainda com os felizes resultados obtidos naquelas assembleias gerais, onde mais uma vez se provou e de maneira elevada o acendrado amor que os vilafranquenses nutrem pela sua terra.

A fusão dos nossos clubes desportivos vai ser, pois, uma realidade, uma consoladora, uma bela realidade. Os sócios desses clubes, por uma enorme maioria, pronunciaram-se, com verdadeiro entusiasmo, pela fusão. Agora - é só caminhar em frente. Todos os obstáculos que se antolhem - e não devem ser poucos - serão derrubados. Não faltam, para isso energia e bom-senso à gente de Vila Franca. Para a frente, pois. É o caminho!

A primeira assembleia geral - para apreciar, discutir e votar a sugestão do sr. presidente da Câmara, no sentido de, em principio, se estabelecer a fusão dos clubes desportivos locais e, na hipótese da assembleia se mostrar favorável à referida fusão, designar dois delegados com poderes especais para juntamente com o sr. presidente da Câmara e os delegados das outras colectividades poderem estudar e assentar nas bases de tal problema que, oportunamente, constituiriam objecto de uma nova assembleia geral extraordinária - realizou-se no  dia  9, na sede do Grupo Futebol Operário Vilafranquense, sob a presidência do sr. capitão José Maria da Silva Guedes Junior (sócio número 1 daquela colectividade e um dos seus fundadores), secretariado  pelos srs. Ramiro Terenas Valente e Armando Fernandes Baptista.

Depois de um dos sócios ter proposto para que aquela assembleia não se pronunciasse em primeiro lugar, uma contra-proposta surgiu com a sugestão de que o escrutínio fosse secreto, os votos fechados e a urna selada para ser aberta na presença do sr. presidente da Câmara, proposta esta que foi aprovada por maioria.

O sr. dr. António José Vidal Baptista, presidente da Direcção, num brilhante discurso, expôs o motivo da assembleia e demonstrou, com clareza, a situação daquele velho e popular clube, situação essa - disse - insustentável e que só teria remédio se os bons amigos do glorioso Operário Vilafranquense quisessem ou pudessem colaborar para que ele voltasse a ter o seu valor de outrora. Como ninguém se pronunciasse àcerca das suas declarações, o sr. dr. Vidal Baptista, com firmeza, afirmou que isso o levava a dar o seu voto favorável à fusão.

Procedeu-se, seguidamente, à votação e a urna, selada, foi aberta, no dia seguinte, no gabinete do sr. presidente do Município, depois da sessão camarária, perante o sr. José de Sousa Nazareth, vereadores, chefe da secretaria da Câmara Municipal, dirigentes e sócios do Operário Vilafranquense, etc.O resultado foi o seguinte: Presenças, 125; pronunciaram-se pela fusão, 89; contra a fusão, 31; abstenções, 4; lista em branco, 1.

A segunda assembleia realizou-se na sede do Águia Sport Clube Vilafranquense sob a presidência do sr. Joaquim Rodrigues da Cruz, secretariado pelos srs. José Marques Pedrosa e Joaquim Ribeiro.
Depois do sr. Filberto Barquinha, presidente da Direcção, ter usado da palavra; discursou o antigo atleta e director daquele prestigioso clube, sr. José Marques Pedrosa que entre outras coisas disse: "Neste momento já nem o sacrifício físico e monetário de meia dúzia chega, sequer para manter as débeis condições que neste momento o Águia    possui. Recorre-se, infeliz1nente, ao uso de jogos de cartas e loto que apenas servem para desenvolver maus instintos, deformando-nos o espírito e a nossa própria formação.

O esforço extraordinário, sobre todos os aspectos dos que por cá tem passado e ao qual cada vez menos se sujeitam, torna-se inglório por não ser possível vermos realizados os nossos propósitos, inglório porque origina o despeito nos seus associados, sofrendo-se dissabores que não desejamos recordar, quando afinal, o grande mal está, como disse, nas condições de vida imprópria com que a colectividade se debate. Eu não desejo que o Clube acabe, por ele dei o meu contributo. quer envergando a camisola de atleta, quer fazendo parte dos seus corpos dirigentes.

A este Clube, que força oculta me levou a amar, devo momentos dos mais felizes que vivi e por ele sofri amarguras que não desejo lembrar. Mas, meus senhores, apesar de tudo, a doença persiste e tende a agravar-se e os medicamentos ao nosso alcance apenas podem prolongar o sofrimento do enfermo. Em face de tal situação, venho aqui publicamente e não enjeito a minha responsabilidade através do escrutínio secreto, que voto a favor da União dos habitantes de Vila Franca, voto para a realização de uma colectividade de que este Clube será um dos órgãos principais, que possua condições para fazer desporto, educando física, moral e espiritualmente os seus associados entre os quais devemos contar os nossos filhos.

Deixo à vossa escolha o caminho a seguir. Na assembleia do Operário Vilafranquense houve uma proposta que considero feliz, para que fossem lacrados os votos; assim, o resultado, por desconhecido, não pode influir nesta assembleia, e porque o resultado desta já não pode influir naquela, proponho, convencido nesta sala que não a cobardia de pensar de uma maneira e votar d'outra, que através do caderno de presenças sejam os associados convidados publicamente manifestar o seu voto. Termino apelando para o bom senso das pessoas aqui presentes, que o momento é transcendente para o desporto local, e desejo como ribatejano que me prezo que este empreendimento venha trazer mais harmonia entre os habitantes de Vila Franca."

A assistência calorosamente aplaudiu o orador, manifestando-lhe a sua concordância. A sua proposta para o escrutínio ser feito publicamente foi aprovada por grande maioria. O resultado foi o seguinte:
Presenças, 145; pronunciaram-se pela fusão, 131; contra a fusão, 6; abstenções, 5; votos nulos, 3.

A assembleia geral, na sede do Ginásio Vilafranquense, efectuou-se na noite de 13 do corrente. sob a presidência do sr. José Duarte Frois, secretariado pelos srs. Manuel Varanda e Júlio Marques Serra.

"Vida Ribatejana" recebeu convite para estar presente nesta reunião e ali estiveram o seu director e o seu delegado, sr Luís de Sousa e Melo. Por proposta do sr. José Pinho o escrutínio foi publico. Antes, o presidente da Direcção, sr. Júlio Serra Sabino, deu aos sócios ali presentes conhecimento da sugestão do sr. presidente da Câmara. Seguidamente declarou que a sua opinião era favorável à união dos clubes desportivos locais, julgando, porém, necessário que os delegados a nomear tivessem a preocupação e o cuidado de zelar os interesses daquela colectividade, especialmente no que diz respeito às secções desportivas nele praticadas: vela, remo, ginástica e campismo.

A convite do sr. presidente da mesa tomaram lugar junto a esta representantes da "Vida Ribatejana", do Operário e do Águia. Igual convite o sr. José Froi dirigiu ao Óquei Clube de Vila Franca, mas na sala não se encontrava ninguém que o representasse. Seguidamente usou da palavra o sr. Manuel Falcão, tendo declarado que o momento difícil que o meio desportivo local vive é favorável a uma congregação máxima de todas as boas-vontades em prol de Vila Franca de Xira. No caso particular do Ginásio Vilafranquense - afirmou - há que considerar que ele tem feito tudo quanto humanamente lhe tem sido possível, mantendo honrosamente as suas secções, mas não podendo tornar-se mais ecléctico como era mister, por carência de força financeira.

E o orador prosseguiu: "Quando uma fusão é alicerçada nos sãos princípios de reunião de valores, em prol de uma ideia alevantada, ela está praticamente indicada, porque valores dispersos e enfraquecidos só deficitariamente podem viver isolados". E explicou: "Atlético Clube de Portugal e mais recentemente Clube Oriental de Lisboa, dois grandes pilares do desporto lusitano, resultante de fusões". "Nós mais do que qualquer outro clube da nossa terra só poderemos favorecer e desenvolver a fusão cuja ideia está em marcha". E    o sr. Manuel Falcão terminou, assim, o seu vibrante discurso: "O nosso coração de vilafranquense pensa que também poderemos ter um grande clube - como o tem hoje a vizinha vila de Torres Vedras e como possuem outras terras que dilate mais, muito mais ainda o nome já tão conhecido e admirado de Vila Franca de Xira. Pensemos também que a nossa região seria altamente beneficiada se um grande clube nosso atraísse as massas humanas que, no nosso tempo, acompanham as grandes manifestações desportivas. O Comércio, sobretudo, sentiria beneficamente a permanência dessas multidões como já sente hoje, também beneficamente, a sua passagem para meios mais desenvolvidos desportivamente. Consequentemente damos o nosso mais rasgado apoio à fundação de um grande clube vilafranquense que arranque do marasmo desportivo a nossa juventude, como infelizmente hoje se observa, esperando das entidades oficiais, do Comércio, de todos os bons vilafranquenses e de todos os amigos de Vila Franca um apoio tanto quanto possível eficiente. Sigamos, pois, para a frente com a desejada união de todos os nossos valores positivos e esperemos, confiados que surja, enfim, o grande clube que tanto desejamos para maior glória da nossa terra".

O sr. Manuel Falcão, que é o presidente do Concelho Fiscal do Ginásio Vilafranquense, foi muito aplaudido. Seguidamente procedeu-se à votação que deu o resultado a seguir: Sócios presentes: 74; pronunciaram-se pela fusão , 64; contra a fusão, 3; abstenções, 4; votos nulos, 3. Novos aplausos se ouviram e mais ainda depois dos discursos de regozijo pelo resultado do escrutínio, dos srs. José Duarte Frois, José Marques Pedrosa, Júlio Serra Sabino, António Redol da Cruz, Luís de Sousa e Melo e do director da "Vida Ribatejana", a quem a assistência dispensou uma calorosa ovação.

Os delegados nomeados nas assembleias gerais dos referidos clubes, com poderes especiais para juntamente com o sr. presidente da Câmara e com os delegados das restantes colectividades desportivas poderem estudar e assentar nas bases do problema da fusão e que oportunamente constituirão objecto de uma nova assembleia geral extraordinária são os seguintes senhores: dr. António José    Vidal Baptista e Luís Ferreira, pelo Grupo Futebol Operário Vilafranquense; José Marques Pedrosa e José Agostinho Pereira, pelo Águia Vilafranquense; Júlio Serra Sabino e Manuel Falcão, pelo Ginásio Vilafranquense.

A assembleia geral do Óquei Clube de Vila Franca realizou-se na noite de quarta-feira, 18, sob a presidência do sr. José Maria Ferreira Delgado, secretariado pelos srs. Orlando de Almeida Vieira e João José de Almeida e Sousa. Depois de terem usado da palavra os srs. António Carlos de Sousa, Horácio Cunha (presidente da Direcção), Alberto  Malta, José Manuel Fernandes da Cunha, António Ferreira Corigo, Joaquim Serrano, Ramiro Terenas Valente e o presidente da mesa, procedeu-se à votação, que  deu o seguinte resultado:
Sócios presentes, 67; pronunciaram-se a favor da fusão, 51; contra a fusão, 1O; listas em branco, 3; abstenções, 2; falta à chamada, 1. A assembleia elegeu, seguidamente, os seus delegados, srs. José Manuel Fernandes da Cunha e Ramiro Terenas Valente.

Portanto, os quatro Clubes locais, por ESMAGADORA MAIORIA, votaram a favor de uma fusão e pela existência de UMA SÓ E GRANDE COLECTIVIDADE DESPORTIVA.
Honra lhes seja - e honra a Vila Franca!

Em todas as assembleias estiveram presentes elevado número de desportistas que enchiam, completamente, as respectivas salas, prova clara do interesse e do entusiasmo que despertou o magno assunto da fusão de todos os clubes desportivos locais.

Em breve realizar-se-á, nos Paços do concelho, uma reunião dos delegados acima referidos cm o sr. Presidente da Câmara, a quem darão conhecimento oficial dos resultados das assembleias gerais, sendo, nessa altura, por S. Ex.ª nomeados para a Comissão de Estudo das bases para fundação do novo e grande Clube Desportivo de Vila Franca que todos tanto desejamos.

Sabemos    que brevemente começarão a ser efectuadas sessões de propaganda    da fusão e da constituição da nova e grande    colectividade:  palestras e conferências de jornalistas e de importantes elementos e dirigentes desportivos de Lisboa e de outras terras, entre eles representantes do    Atlético e do Oriental.

Está a chegar o momento, desportistas vilafranquenses de todos darem a vossa adesão incondicional à Comissão   Organizadora da nossa Grande Associação Desportiva, que a Vila Franca trará progresso e ordem - e uma nova vida e desenvolvimento incalculáveis.

Vida Ribatejana

21 de Janeiro de 1956

A Fusão - Uma Realidade

De alguns Vilafranquenses devotadamente amigos do progresso da sua terra e de amigos de Vila Franca e deste jornal, residentes em vários pontos do País, recebemos telegramas, cartas e cartões de feicitações pelo feliz resultado da campanha aqui feita para a fusão dos clubes desportivos locais - fusão essa a caminho da realidade.
A todos, os nosso melhores agradecimentos.

Vida Ribatejana
28 de Janeiro de 1956

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