Primeiros Clubes de Vila Franca de Xira

O primeiro 'team' do Operário em 1929
(Da esquerda para a direita) de pé: José Murtinheira, Raul Pico, Germano da Silva, Norberto Batista, António Vitorino, Júlio Santos. Sentados: José Mesquita, Acácio de Jesus, J. Macedo, José Cardopso e António Joaquim Pardal.

Na primeira metade do século XX existiam em Vila Franca de Xira quatro clubes: Águia Sport Club Vilafranquense, Grupo Foot-Ball Operário Vilafranquense, Hóquei Clube Vilafranquense e Ginásio Vilafranquense sendo os mais representativos e com a sua história documentada os dois primeiros.


Grupo de Foot-Ball Operário Vilafranquense

Escudo do Grupo de Foot-Ball
Operário Vilafranquense
O Grupo de Futebol Operário Vilafranquense foi a mais antiga colectividade desportiva de Vila Franca de Xira, fundada em 6 de Março de 1913[1] e tem por bandeira o preto e branco.[2] Teve como fundadores o Capitão José Maria da Silva Guedes Junior, Luís Tralha, Alberto Gonçalves, José Rodrigues Tarreira , Mateus Luís, Vicente Caçaiho, António Morgado, Guilherme Pedro, Álvaro Pedro, José Atouguia, Alfredo Marcolino, António Calhordas e Sérgio Dominguinho, grupo esse constituído, na sua quase totalidade, por operários desta vila com excepção do primeiro sócio fundador, então ainda estudante e mais tarde distinto oficial da aviação, e vereador do município Vilafranquense.[1]
O Clube tinha como seu parque de jogos, o "Atlético Operário" na zona Norte da cidade e palco mítico de muitos derbies, espaçoso e bem instalado. No início da década de 1950 o clube era um nome de prestígio no seu meio local e bem conhecido no País conquistando vários títulos em Futebol:









Jornal 'A Província' 6 de Outubro de 1955
  • Campeão durante cinco épocas do Núcleo da linha de Vila Franca entre 1933/34 a 1937/38 [1]
  • Campeão da A.F.Lisboa em 1934/35[1] • Campeão da Série A da 2ª Divisão A.F.de Santarém durante oito épocas entre 1938/39 a 1945-1946[1]
  • Campeão da 2ª Divisão A.F.de Santarém em 1938-1939 e 1939-1940[1]
  • Campeão da Província do Ribatejo categoria de Honra, em três épocas 1939/40, 1940/41 e 1943/44. " Campeão em Júniores, da A.F. Santarém em 1944/45 e 1945/46 [1] 
  • Campeão da 3.“ Divisão da Associação Futebol de Lisboa em 1948/49[1]
  • Finalista do Campeonato Nacional da 3ª Divisão em 1949/50[1] 
  • Campeão na 1.ª Divisão da Associação Futebol de Lisboa, nas épocas de 1949/50 e 1950/51[1]
Para além do Ténis de Mesa e da Pesca Desportiva o Futebol então em implantação no país era a grande prioridade do Operário. Em 1940/41 participa na Taça de Portugal e chega aos nacionais da 2ª divisão e lá permanece até 1946/47 quando desce ao terceiro escalão e na época seguinte em 1948/49 conquista o título de Campeão da 3ª Divisão da A.F.Lisboa[3],
Na época seguinte volta á final do Campeonato onde perde para a Ovarense por 6-3[2].

No final da década de 1950 o outrora fervoroso público do "Atlético Operário" afasta-se do clube fruto de alguns anos de gestões danosas para as finanças do mesmo e o clube vive os seus dias de declínio.[1] A reformulação das competições nacionais leva o clube a reorientar-se, e aqui também se procura criar um clube mais forte, pelo que em 1957 renunciando á conotação de clube elitista que ostentava na altura e junta-se aos outros três clubes na fusão. [4]

Escudo do Águia Sport
Club Vilafranquense

Águia Sport Clube Vilafranquense


Um grupo de rapazes, cujas idades variavam entre os 13 e 15 anos, em princípios de 1924 organizaram um clube de Futebol. O clube infantil, que se denominou "Os 11 Unidos Vilafranquenses" começou a mostrar vitalidade e improvisou-se uma direcção.

Em 3 de Maio desse ano altera-se o nome ao Clube, por proposta de Manuel Bico Junior, que passa a denominar-se Águia Sport Club Vilafranquense, ligando-se um outro clube infantil então existente, Os "11 Ovarinos" [8][2]

Os sócios fundadores foram Manuel Bico Júnior, António e Carlos Morte, Noel Salvaterra, Victorinho, Júlio Bico, António Rosmaninho, José Lopes, Jaime e José Vicente, Júlio Antunes, Cristiano Conceição,Germano dos Santos e António Lanchinha.[1] Pouco depois também se ligaram ao Clube: Manuel José Dias, Gilberto Teixeira, Cristiano Silva, José Ferreira, Francisco Ginguinha, Artur José da Silva, Joaquim Belchior, José Borrelha, Edmundo Filipe, Francisco Vieira, Carlos Guerra, Carlos Coelho, Tomás Pereira, Domingos Caravela, Cristiano Conceição, Edmundo Moura e muitos outros rapazes cuja a idade não iam além dos 16 anos.[8]

O Águia Sport Clube Vilafranquense participou em provas nacionais jogando então no campo do Hospital Civil, foi um clube satélite do C.F.Belenenses um dos grandes de Portugal na altura e o apoio chegava em forma de equipamentos, bolas e outras ajudas.
 A comunidade Varina de Vila Franca de Xira eram a base social de apoio ao Águia que também ficou conhecido por recrutar jovens nas tavernas de Vila Franca de forma a evitarem o flagelo do alcoolismo. [5] [6]

No início o Águia sentia mais dificuldades económicas e não possuia campo próprio. Até então treinavam no 'Campo da Feira' (actual Parque Urbano) junto á estrada nacional onde os treinos eram frequentemente interrompidos pela passagem de automóveis, posteriormente chegaram a acordo com o Operário para a cedência do campo ao Águia para realização dos jogos e dois treinos por semana. Só em meados dos anos 30 é que foi constituida uma comissão liderada por Francisco Alemão e Domingos Belo para comprar aquele que viria a ser o seu campo, onde está hoje o viaduto da Auto-Estrada. O terreno e as suas instalações foram feitas pelos dois, que hoje são os seus proprietários e pela massa associativa. sem encargos para o Clube.[7]
Filberto Barquinha, antigo Presidente do Águia Sport
Club Vilafranquense. Foto por: José Ceitil
No Águia implementavam aos atletas conceitos como devoção e espírito de missão, o Clube era visto pela comunidade como uma 'escola de virtudes' dentro e fora de campo.[6] Todas as despesas com equipamentos e deslocações eram pagas do bolso dos próprios atletas e aquando dos aniversários do Clube eram realizadas eventos invulgares no meio como provas velocipédicas, e tendo sido o primeiro clube da região a fomentar os desportos náuticos como a natação, a vela e o remo aproveitando assim o Rio Tejo que banha a cidade para além de ténis de mesa, atletismo, básquete e pesca desportiva. O Clube também mandou erigir no Cemitério de vila Franca de Xira um monumento de homenagem aos atletas falecidos. Entre os grandes dirigentes do Águia contam-se nomes como Joaquim Cruz, José Cristino Sabino, José Marques Pedrosa, Xico Paulino, Luis Sousa e Melo e Filberto Barquinha. O Clube contava com cerca de 400 sócios em 1955.[1]
O Águia foi campeão da Divisão de Honra da A.F.Lisboa em 1952/53 tendo alcançado o 1º lugar também em Juniores nessa mesma época. Do clube Vilafranquense transitaram para divisões superiores jogadores como Artur da Conceição e Joaquim Ceitil para o Beleneses; João Pereira para o Sporting da Covilhã ; Manuel Augusto de Matos para a CUF; José Oliveira da Silva para o Caldas.[1]

Equipa do Águia Sport Club no campo do Operário Vilafranquense (Anos 50)



Convivência, Rivalidade e União

Entre estas duas colectividades existia uma grande rivalidade na Vila que ficava dividida na rua do chafariz do Alegrete (onde está hoje o monumento ao campino) sendo o ponto que demarcava a fronteira entre os Varinos (apoiantes do Águia) e os “Senhores da Vila” (apoiantes do Operário).
Os Derbies locais eram bem disputados dentro e fora de campo, o que levou várias vezes á interdição do campo do Operário.
Em meados dos anos cinquenta, quando algumas vozes Vilafranquenses já defendiam a fusão com o intuito de criar um Clube mais forte“, quando começaram a surgir rumores a propósito do traçado da auto-estrada e a confirmarem-se, o Águia iria ficar novamente sem campo. Essa possibilidade alterou o pendor para o lado dos que defendiam a fusão.
Filberto Barquinha um dos grandes impulsionadores da fusão que foi votada em Assembleia Geral por maioria mas com muitas lágrimas, mesmo dos que votaram a favor. Filberto que estava na Direção do Águia desde 1946 sempre acreditou que um único clube podia unir e engrandecer o desporto na terra e defendeu até ao fim dos seus dias que, na altura, não havia outro caminho a seguir. "Eu era um apaziguador e nunca entendi muito bem as rivalidades que partiam a vila ao meio." [6]

Escudo do Ginásio Clube
Vilafranquense



Ginásio Vilafranquense

O Ginásio Vilafranquense nasceu das cinzas da antiga Sociedade União Musical Vilafranquense em 11 de Novembro de 1933, por dissidência de um grupo de elementos musicais do antigo Grémio Artístico. Sendo uma associação de cariz Cultural e criada com o objectivo de criar uma nova banda filarmónica, desde cedo dedicou-se à prática de diverso s desportos: ginástica, patinagem, campismo, basquete, voleibol e desportos náuticos.[1]

Nesse sentido, construíram-se então, cerca de uma dezena de barcos Motz. A partir desse momento, a juventude do Ginásio apaixonou-se pelos desportos náuticos, lutando a direcção do clube com a dificuldade de instalações próprias para o funcionamento desta modalidade. A Associação dos Bombeiros Voluntários local cedeu uma dependência para arrecadação do seu material. O Ginásio contava com cerca de 400 sócios, e a sua direcção esteve na origem da criação do posterior Posto Náutico.[1]



REFERÊNCIAS:
  1. «A Província ANO I - 06 Outubro de 1955» (PDF). 6 de outubro de 1955
  2. «Os Arquivos feitos pelos seus Leitores (V)». Arquivos da Bola. 3 de agosto de 2007
  3. Ir para cima↑ Sousa, Victor (13 de agosto de 2009). «Futebol Saudade: AF Lisboa – campeões de 1921 a 1949». Futebol Saudade. Consultado em 12 de junho de 2018.
  4. Ir para cima↑ Sousa, Victor (5 de agosto de 2008). «Futebol Saudade: Grupo de Futebol Operário Vilafranquense». Futebol Saudade. Consultado em 12 de junho de 2018.
  5. Ir para cima↑ Sousa, Victor (quarta-feira, 30 de julho de 2008). «Futebol Saudade: Águia Sport Clube Vilafranquense». Futebol Saudade. Consultado em 12 de junho de 2018. Verifique data em: |data= (ajuda)
  6. ↑ Ceitil, José (2012). «História do Clube - União Desportiva Vilafranquense». UDVFutebol.pt.vu
  7. «Espaço União para unir Vilafranquenses». The best project ever.

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